Parecia uma manhã como outra qualquer na pequena Palmyra, uma cidade histórica no litoral do Rio de Janeiro. A caminho do trabalho, o delegado Joaquim Dornelas se espanta com um movimento incomum nas ruas. Diante da Igreja de Santa Teresa e da Antiga Cadeia, no Centro Histórico, uma multidão observa o corpo de um homem atolado na lama seca do canal. Ninguém sabe como o corpo foi parar lá. Não há sinais de arrasto, marcas de barco, violência, ferimentos, nada. Apenas um band-aid na dobra interna do braço esquerdo. Abandonado pela mulher e longe dos filhos, o delegado Dornelas, um tipo humano, amante de cachaça e de mingau de farinha láctea, se envolve de corpo e alma no caso em busca de salvação. Sem aviso, a irmã do morto e um vereador poderoso aparecem para dar informações importantes sobre o que se tornaria um caso de dimensões bem maiores do que Dornelas poderia imaginar. Aos poucos se revela uma complexa teia de interesses envolvendo a política, o tráfico de drogas, a prostituição e a comunidade local de pescadores. A intuição aguçada, a cultura e o conhecimento das forças que movem a natureza humana permitem ao delegado Joaquim Dornelas se mover habilmente pelo emaranhado de fatos e versões que a trama apresenta. O que a princípio seria mais uma investigação na sua carreira, se torna para o delegado uma jornada de transformação pessoal.
A trama é iniciada quando o Delegado Joaquim Dornelas encontra num dos Cartões Potais da cidade de Palmyra, o Mangue, um corpo, sem sinais de violência, e sem a mínima identificação. Um crime difícil de solucionar, um homicídio - suicídio talvez - que intriga cada vez mais a todos, principalmente ao delegado. A medida em que as testemunhas e pistas vão aparecendo, um crime que no início era difícil começou a ser pensado como um emaranhado muito mais complexo, um crime que é apenas a casca de algo muito maior e mais perigoso.
"Ouvir reclamações, procurar soluções."Porém, nem só deste crime se faz essa história, ao decorrer do livro nos deparamos com problemas familiares, amorosos, pessoas muito inteligentes - e outras nem tanto - e principalmente com o processo de 'superação' do nosso protagonista. Dornelas acaba de se separar da esposa, foi obrigado a escolher entre família e trabalho - consequência de um tiro que o acertou - Ele escolheu a polícia, e assim foi afastado da mulher e filhos, e luta para não entrar em depressão. Um delegado, sim, mas uma pessoa comum, cheia de problemas - como nós, motivo que o faz ser mais notável -, e que no momento passa por uma fase delicada da vida. Uma fase que requer cuidados emocionais. De frente a este novo caso que tanto intriga a todos, ele não desiste. Sua raiva, dor, força, amor e ódio são focalizados no crime. Um modo de conseguir viver e tentar superar tudo que lhe acontece. Este é nosso protagonista, bem idealizado e construído pelo autor, um homem forte e também comum. É muito interessante sabermos de toda a 'transformação' pessoal do personagem ao longo da trama, saber de suas dores e dúvidas, etc.. Um homem entupido de defeitos, mas que tenta lidar com todos eles, e com todas as pessoas acima da 'média do razoável', porém, quando se trata de sua relação familiar ele desmorona. Um homem tão forte, que fica acabado por este motivo - Família, uma das coisas que aprendi a valorizar mais com a ajuda de Dornelas. Sobre sua vida no emprego, ele é um bom delegado, inteligente, sempre tecendo mais linhas que vão a lugares diferentes, assim, sempre com um bom número de teorias sobre os crimes. Além de ser sarcasticamente engraçado. Com toda certeza, Delegado Joaquim Dornelas é um personagem que eu não vou esquecer facilmente.
"- É o que o senhor diz.- E digo a verdade.
- Pois preciso de mais do que a verdade. Preciso de provas."
Nota: Tenho que citar Dulce Neves nesta resenha... Mulher hilária e inteligente, já adoro a personagem
A previsibilidade sobre quem era o autor do crime principal me deixou um pouco incomodada. Foram citados vários suspeitos, sim, mas acho que meu modo de ler foi mais detalhado, então eu já tinha uma quase completa certeza da identidade do assassino.
Nota:
4/5